[0] A proposta do blog ‘A Estrela da Redenção’: uma releitura existencial da Bíblia Hebraica

A Estrela da Redenção
3 min readJun 21, 2020

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A Bíblia Hebraica, vulgarmente conhecida como ‘Velho’ Testamento, é uma obra fascinante. Suas sutilezas históricas, interpretativas, literárias, teológicas, etc. são muito interessantes. É um grande patrimônio cultural e intelectual que o povo judeu forneceu para a humanidade.

Infelizmente, há uma visão caricatural que é compartilhada tanto por pessoas religiosas (em geral seguidoras de igrejas cristãs) como por pessoas não religiosas (em geral neo-ateías) que retratam a Bíblia Hebraica como um livro de um Deus violento, rigoroso, sem misericórdia, punitivista. Isso pode ou não ser seguido da conclusão de que ela precisaria de um complemento que corrigisse isso (o Novo Testamento). Ou talvez que é apenas sob uma lente cristianizada que a Bíblia Hebraica pode ser lida corretamente, contra a leitura que desta faz o judaísmo. Um de meus objetivos neste blog é mostrar o quão errada é a caricatura.

Outra pressuposição comum, mas ruim, tanto por religiosos e não religiosos: a Bíblia Hebraica deve ser lida como um livro que pretende ser infalível ou inerrante. Se um único ‘problema’ existir nela, deve-se rejeitar COMPLETAMENTE suas mensagens. O seu valor reside em seu ser ou não ‘caída do Céu’. Mas também isso é uma postura problemática, MESMO considerando a própria tradição teológica milenar em torno dela.

Em suma, a questão que aflige este blog é a seguinte: a Bíblia Hebraica foi um livro MUITO importante, no mínimo para as civilizações moldadas pelas religiões que dela derivaram. Seu legado precisa ser preservado. Mas muito mal fazemos ao deixar que seu ‘correto entendimento’ seja entregue de bandeja a fanáticos ou mal informados. Infelizmente, no atual estado da nossa cultura , me parece que é justamente o que temos feito.

Para melhor trabalhar esse legado, penso que devemos fazer a Bíblia novamente FALAR. Como se ela fosse, de novo, pela primeira vez escrita. Mas, para isso, precisamos levar em conta os milênios que nos distanciam do contexto original de sua escrita. Muita coisa mudou. Nosso entendimento de diversos aspectos do mundo mudou. Não tem como nosso entendimento dela e nosso relacionamento com ela não refletir isso.

Precisamos respeitar a tradição histórica que interpretou a Bíblia Hebraica. Como enfatizarei nesta série, nesse ponto o lugar prioritário reside na tradição JUDAICA, enquanto algumas tradições interpretativas não-judaicas também extraíram dela significados para outros contextos que também podemos apreciar. Fazer o resgate dessa tradição judaica de interpretação para um público maior (não necessariamente judeu) também é um aspecto que esse blog se ocupará.

Mas, para que a Bíblia Hebraica fale aos nossos dias, precisamos RECONSTRUIR o seu significado, REINTERPRETÁ-LA nos nossos termos de modo que, assim, ela fale a nós como ela falou àqueles para os quais originalmente falou — nos termos deles também. E isso não é completamente novo. É aquilo que as diversas tradições religiosas que a interpretaram também tiveram de fazer, diversas vezes, ao longo da história.

Para realizar esta tarefa, este blog descansa principalmente sobre a corrente filosófica do existencialismo judaico, uma forma de pensar o existencialismo e as questões existenciais que muita gente desconhece.

O nome do blog é uma homenagem à clássica obra “The Star of Redemption”, do brilhante filósofo judeu e existencialista judaico Franz Rosenzweig, cuja tese é sumarizada na ilustração acima

Mas também recorrerei a certos insights do existencialismo cristão e da neo-ortodoxia dentro da teologia cristã que dialogam com o existencialismo judaico. E um lugar central terão também os resultados da pesquisa acadêmica sobre a Bíblia Hebraica, tanto em termos dos estudos históricos-críticos e literários da Bíblia e/ou da antiga religião israelita, como em termos das assim chamadas Teologias do ‘Antigo’ Testamento produzidas academicamente, e mesmo da ciência comparativa da religião.

O resultado que se espera é mostrar aos leitores que, no final das contas, mesmo se você adotar uma cosmovisão plenamente naturalista e científica moderna, ainda é possível adotar também uma perspectiva existencial bíblica (e mais especificamente, bíblico-judaica) para a questão de como encontrar significado na vida e sentido no mundo. No mínimo, que essa perspectiva ainda tem algo a ensinar, mesmo para o século XXI. Ainda mais forte que isso: mesmo para os MILÊNIOS VINDOUROS da civilização humana, tal como serviram aos milênios passados.

Desse modo, os posts desse blog não discriminam entre religiões. Pessoas de diversas religiões e tendências filosóficas (inclusive atéias e agnósticas) estão convidadas à leitura.

  • Valdenor Brito, Doutorando em Filosofia (Ontologia).

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Releitura existencial da Bíblia Hebraica via existencialismo judaico + tradição judaica e pesquisa bíblica acadêmica. Doutor em Filosofia Valdenor Brito Jr.