[1] O que é o existencialismo religioso (judaico e cristão)?
Existencialismo em filosofia é uma escola/movimento que, explicado de forma simples, aborda 2 questões principais:
1) analisar a questão da existência a partir da experiência subjetiva humana, da perspectiva da nossa subjetividade — portanto, não de forma objetiva e destacada como em uma investigação científica;
2) lidar com a situação de ‘angústia existencial’ que enfrentamos ao encarar um mundo aparentemente absurdo e destituído de significado.
Ou seja, o existencialismo se preocupa com a questão do ‘sentido da vida’/’sentido da existência’/’sentido existencial’ que podemos ou não encontrar na vida humana, em sua finitude e transitoriedade inexorável diante da morte. É possível dar um sentido à vida? E como fazê-lo? (Dito de outro modo: como podemos ter uma vida autêntica?).
É relativamente comum que se veja por aí na internet que o existencialismo religioso seria a ideia de que Deus dá o sentido da vida, enquanto o existencialismo ateu seria a ideia de que, não havendo Deus, nós temos de construir esse sentido nós mesmos. Mas isso é uma forma MUITO equivocada de fazer a distinção. O existencialismo religioso defende algo muito mais plausível que isso.
A distinção que penso ser a mais correta reside no papel que linguagem/símbolos/temas/conceitos religiosos ocupariam ou não na determinação do sentido da vida.
Para um existencialismo ateu, bem nós faríamos em encontrar o sentido da vida por nós mesmos, e podemos melhor fazê-lo usando linguagem puramente secular (enquanto possa ser poética ou literária sem problemas).
Para um existencialismo religioso, a melhor maneira de falarmos do sentido da vida exige irmos além de uma linguagem puramente secular, e recorramos à linguagem religiosa, com seu rico substrato de símbolos, temas e conceitos dentro de tradições históricas milenares.
Da perspectiva de um existencialismo religioso, o existencialismo ateu desenvolve bem quão a vida parece carecer de sentido e quão complicado pode ser encontrar razões para dar um sentido à existência; mas o existencialismo ateu não conseguiria encontrar uma resposta adequada para isso. Por exemplo, o teólogo luterano Rudolf Bultmann chegou a dizer que encontrara no filosofia atéia de Martin Heidegger (enquanto não necessariamente ateu pessoalmente) a melhor elaboração do estado da vida humana sem Cristo, da vida humana inautêntica!
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