[10] Uma Lei mais para beneficiar do que para castigar

A Estrela da Redenção
2 min readJun 24, 2020

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O foco da Lei no judaísmo não é o castigo (enquanto isso também faça parte dela), e sim os benefícios comunitários e individuais, tanto materiais como espirituais, de sua observância.

Cumprir mesmo um pequeno mandamento é muito importante — não porque você será condenado eternamente pelo seu descumprimento, mas porque mesmo um pequeno oferece grandes benefícios, fazer o bem é bom em si mesmo e contribui para aproximar Deus e o mundo.

“Moses Casts Out the Tablets, from The Story of Exodus” [Moisés arremessa as Tábuas, da História do Êxodo], Marc Chagall, 1966, retratando o episódio de Êxodo 32:19, quando Moisés quebra as Tábuas da Lei, contendo os 10 mandamentos, ao arremessá-las no pé do Monte Sinai, por conta da rebelião do povo]

Ao contrário do cristianismo, onde mesmo o menor descumprimento já te condenaria eternamente (e daí a necessidade da graça via Jesus e sua Igreja para mudar isso), no judaísmo as penalidades não são eternas — porque ser punido faz você ‘pagar’ pelo mal feito e ficar ‘quite’ — e são proporcionais à regra violada, em casos leves sendo a ‘pena’ apenas a ausência de ganho de uma recompensa.

Além disso, a medida da recompensa pelo bem é sempre maior que a da punição, Miriam esperou o cesto com Moisés no rio por 1 hora e o povo hebreu na deserto esperou por ela por 7 dias (Tratado Sotah 11a).

Por fim, no judaísmo, o pecado pode ser perdoado por Deus sem nenhum tipo de sacrifício humano ou animal*, pela livre graça divina em favor do arrependido, ao qual Deus tem prazer em perdoar e em converter seu castigo em recompensa — diferente do cristianismo, que, apesar de também falar num Deus que deseja perdoar, exige o sacrifício humano-divino de Jesus para que a graça possa ser liberada àquele que se arrepende.

*E quanto aos sacrifícios animais descritos em Levítico?

Numa leitura cristã famosa isso significaria que “sem sangue não há expiação de pecados”, o que torna necessário um sacrifício definitivo, o do Jesus sem pecado.

A tradição judaica pensa diferente. Os sacrifícios animais (korbanot) de fato eram um meio de expiação quando havia um Templo (não são realizados no judaísmo há quase 2 milênios). Mas seu escopo era limitado a pecados não intencionais (pela oferenda de pecado, Chatat) e apenas uns poucos intencionais específicos (pela oferenda de culpa, Asham), a esmagadora maioria dos pecados intencionais NÃO obtinha expiação e perdão por esta via.

Além disso, os korbanot não eram um meio exclusivo pra expiação, eles não são nem necessários nem suficientes para o perdão. Deus pode perdoar sem esses sacrifícios. Os meios de buscar o perdão divino no judaísmo são o arrependimento, o louvor a Deus, e por ajudar outras pessoas praticando caridade e justiça especialmente para os mais necessitados. (Mais pra frente na série analisaremos com mais profundidade a questão do significado dos korbanot)

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Written by A Estrela da Redenção

Releitura existencial da Bíblia Hebraica via existencialismo judaico + tradição judaica e pesquisa bíblica acadêmica. Doutor em Filosofia Valdenor Brito Jr.

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