[13] Torá e a ética das Mitzvot
Voltando à programação normal desta série, vimos no post nº 11 que o Rabino Heschel, um existencialista judaico, considerava que a centralidade do judaísmo está no conceito de Mitzvá (plural: Mitzvot).
Ele ressalta que este conceito inclusive é mais importante que o de Lei propriamente dita. O que isso significa?
O termo que costumamos traduzir como ‘Lei (Judaica)’ é o termo Torá (Torah). Torá designa duas coisas: 1) os primeiros cinco livros da bíblia (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), também conhecido por Pentateuco; 2) o conjunto dos ‘mandamentos’ encontrados naqueles livros e desenvolvidos pela tradição judaica, isto é, as Mitzvot.
Enquanto a Torá tem um aspecto jurídico bem significativo (o qual é designado pelo termo hebraico ‘din’), o termo ‘Torá’ é mais propriamente traduzido como ‘Instrução’ ou ‘Ensinamento’. Ou seja, Deus é um ‘professor’ para seu povo, ensinando maneiras em que a pessoa e seu Deus podem se conectar.
É por isso que na história bíblica da entrega da Torá por Deus ao povo judeu, Deus fala ao povo. É como se Ele não pudesse cobrar o cumprimento disso sem informá-lo previamente.
Essa é uma das razões que Deus na tradição judaica não exige de outros povos a observância da Torá Judaica: Ele não se fez ‘conhecer’ a estes outros povos como o fez para Israel, então não seria justo exigir a mesma coisa. Ele não possui a mesma ‘intimidade’ histórica. (Veremos mais pra frente nesta série quais as exigências de Deus para outros povos na tradição judaica, que são menos rigorosas e em menor quantidade que para o povo judeu)
Isso significa que podemos ver a ética das Mitzvot como uma ética de ‘exigências’. Uma ‘exigência’ ou uma ‘demanda’ tem um caráter pessoal. ALGUÉM exige ou demanda de você algum ato. Por exemplo, a professora demanda que alguém escreva na lousa. Num namoro uma das partes demanda carinho e atenção da outra.
A Bíblia concebe fundamentalmente a relação do humano com o divino por intermédio do uso extensivo de ‘metáforas’ ou ‘símbolos’ pessoais para Deus. Em algum sentido a transcendência é PESSOAL.
Veremos que isso não impede que a transcendência em sentido último possa ser ‘transpessoal’ de maneira similar a visão predominante nas religiões orientais — nas religiões bíblicas isso também foi formulado, como na Kaballah/Cabalá judaica — mas a tradição bíblica recusa se relacionar ao Divino (com D maiúsculo) em termos impessoais. Nosso relacionamento com o sentido último da existência é particular.
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