[14] Existencialismo Judaico: encontrando Deus nas ações
O existencialismo judaico interpreta o caráter pessoal da transcendência divina como significando que Deus é encontrado na interação entre as pessoas. Aqui falaremos da concepção de R. Heschel que interpreta as Mitzvot sob esse ângulo em God in Search of Man: a philosophy of judaism (1955).
Sendo o judaísmo uma ciência da Mitzvot, essas ‘exigências’ não são pensadas apenas para ‘cumprir uma regra abstrata da Lei’. Ao contrário, elas aproximam as pessoas de Deus, são uma oferenda a Deus. Existe um intuito particular, pessoal nelas.
Para R. Heschel, as Miztvot expressam uma apreciação pelo inefável na totalidade de nossa vida, trazendo junto o transitório e o eterno. Elas afirmam Deus NAS ações. Isso tanto para ações sem um significado religioso explícito (como emprestar dinheiro a alguém que precisa, sem juros) como aquelas que são distintivamente religiosas (como abster-se de comer carne de porco). Obras comuns têm uma aura sagrada.
“O que é uma Mitzvá? Uma obra na forma de um louvor. A observância judaica é uma liturgia das ações.” (p. 355, God in Search of Man)
A eternidade, recompensa desses atos, está na própria Mitzvá. A eternidade está no fazer, e assim as Mitzvot são sua própria recompensa. Não é preciso procurar a eternidade em outra vida, pois já a encontramos no meio desta aqui. Todo ato do homem é um possível encontro entre o humano e o sagrado, uma parceria entre eles.
Mas R. Heschel vai além. Ele entende que a tradição judaica está comprometida com a ideia de encontrar Deus ‘no meio das’ nossas ações e obras do cotidiano.
“Porque este mandamento que eu te ordeno hoje não te é encoberto nem está longe de ti. Não está no céu para dizeres: Quem subirá por nós aos céus, para que o traga a nós e nos faça ouvi-los, para que o observemos? Nem está além do mar para dizeres: Quem passará por nós além do mar, para que o traga a nós e nos faça ouvi-lo, para que o observemos? Pois isso está muito perto de ti, na tua boca e no teu coração, para que o observes.” (Deuteronômio 30: 11–14)
Na Bíblia Deus é mais imediatamente encontrado em atos de bondade e gratidão que nas montanhas e florestas. Deus é imanente em nossas ações, Ele está no mundo por meio de nossas atitudes. As Mitzvot celebram a eterna presença de Deus NA ação mundana. Deus fica oculto no mundo e nossa tarefa é deixar o divino emergir pelas nossas ações.
No hebraico as duas últimas* letras da palavra Mitzvá (מִצְוָה) são as mesmas últimas do NOME INEFÁVEL de Deus, o Tetragrama YHWH (יהוה) que é o NOME PRÓPRIO de Deus nas Escrituras Hebraicas, e as duas primeiras letras são intercambiáveis na ordem alfabética com as duas primeiras do Tetragrama. Assim, o próprio nome de Deus é revelado e ocultado em nossas obras.
R. Heschel conclui que o propósito dessas ações não é expressar o que sentimos ou pensamos mas para SER o que sentimos e pensamos. Nós precisamos aprender a como ser UM com o que nós fazemos. A viver em atitudes que expressam o divino. De fato, as Mitzvot são da essência de Deus mais do que cumprimento de sua vontade. A exigência bíblica fundamental não é obedecer o que Ele deseja mas FAZER o que Ele É!
“Julgou a causa do aflito e necessitado; então lhe sucedeu bem; porventura não é isto conhecer-me? diz o Senhor.” (Jeremias 22:16)
*No Hebraico lê-se da direita para a esquerda.
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