[20] A justiça social no âmago do profetismo israelita clássico
Os livros bíblicos correspondentes ao profetismo israelita clássico nos mostram como num período de cerca de 2.780 anos atrás a 2.535 anos atrás (prévio ao surgimento das grandes religiões mundiais) a grande preocupação da ‘religião’ bíblica era com a injustiça social.
A grande luta dos profetas foi pelo restabelecimento da justiça na comunidade, e por ver o Deus de Israel como um Deus que ordena acima de tudo a prática da justiça. Isso os levou a se contraporem ás autoridades e elites dominantes e, como ainda teremos mais base para entender nesta série, a Bíblia foi moldada por essa auto-crítica feroz que conseguia aceitar até mesmo a própria destruição da ordem social existente como solução.
Mas talvez o leitor possa pensar que eu estou forçando a barra. Então, deixarei aqui que os próprios textos falem. (Os trechos abaixo com a prévia temática de cada um foram tirados do artigo “Esperança política e espiritualidade no Profeta Jeremias”, por Luiz Alexandre Solano Rossi, mas existem MUITOS textos assim, esta é apenas uma seleção útil deles)
A (falta de) administração da justiça: “Ai de vocês que decretam leis injustas, leis para explorar o povo. Vocês não defendem o direito dos pobres nem a causa dos necessitados e exploram as viúvas e os órfãos” (Isaías 10:1–2).
O comércio fraudulento: “Assim como a gaiola está cheia de pássaros, também a casa deles está cheia de coisas roubadas. É por isso que são poderosos e ricos e estão gordos e bem alimentados. A maldade deles não tem limites; não defendem a causa dos órfãos, nem se importam com os direitos dos pobres” (Jeremias 5:27–28).
A escravidão: “O Senhor falou de novo comigo depois que Sedecias fez um acordo com os moradores de Jerusalém para darem liberdade aos seus escravos. Cada um devia pôr em liberdade os seus escravos hebreus, tanto homens quanto mulheres, para que assim nenhum hebreu tivesse como escravo uma pessoa da sua raça. E todo o povo e as autoridades concordaram em libertar os seus escravos, prometendo nunca mais escravizá-los. Eles libertaram os escravos, mas depois mudaram de ideia e os fizeram voltar, e os obrigaram a se tornarem escravos de novo” (Jeremias 34:8–11).
O latifúndio: “Ai de vocês que compram casas e mais casas, que se tornam donos de mais e mais terrenos! Daqui a pouco não haverá mais lugar para os outros morarem, e vocês serão os únicos moradores do país. Ouvi o Senhor todo-poderoso dizer isto: As grandes e belas mansões serão destruídas e ninguém ficará morando nelas. Um alqueire de parreiras dará somente uns vinte litros de vinho, e cem quilos de semente produzirão somente dez quilos de trigo” (Isaías 5:8–10).
O salário: “Ai daquele que constrói a sua casa com injustiça e desonestidade, não pagando os salários dos seus vizinhos e fazendo com que trabalhem de graça. Ai daquele que diz: ‘Vou construir uma casa bem grande, com quartos espaçosos no andar de cima!’ Então ele põe janelas na casa, forra as paredes com cedro e pinta de vermelho. Será que você é rei só porque constrói casas forradas de cedro melhores do que as dos outros?” (Jeremias 22:13–15).
Tributos e impostos: “Perto de qualquer altar pagão, eles se assentam sobre as roupas que receberam como garantia de pagamento de dívidas e comem dos sacrifícios oferecidos aos ídolos. Para comprar o vinho que bebem no templo do deus deles, usam o dinheiro que receberam de multas injustas. (…) Vocês exploram os pobres e cobram impostos injustos das suas colheitas…” (Amóis 2:8; 5:11).
Roubo: “Contra as autoridades e os líderes, ele fará esta acusação: Foram vocês que acabaram com Israel, a minha plantação de uvas! As suas casas estão cheias de coisas que vocês roubaram dos pobres! Com que direito vocês esmagam e exploram os pobres?” (Isaías 3:14–15).
Assassinato: “As roupas de vocês estão manchadas com o sangue de pobres e inocentes que nunca assaltaram as suas casas” (Jeremias 2:34).
Garantias e empréstimos: “E não explora nem rouba ninguém. Ele devolve aquilo que lhe foi dado como garantia de empréstimo. Dá comida a quem tem fome e roupa a quem está nu. Ele se recusa a fazer o mal e não empresta dinheiro a juros altos…” (Ezequiel 18:16–17).
E um bônus de escolha minha para finalizar:
Que jejum agrada a Deus? “Seria este o jejum que eu escolheria, que o homem um dia aflija a sua alma, que incline a sua cabeça como o junco, e estenda debaixo de si saco e cinza? Chamarias tu a isto jejum e dia aprazível ao Senhor? Porventura não é este o jejum que escolhi, que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo e que deixes livres os oprimidos, e despedaces todo o jugo? Porventura não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres abandonados; e, quando vires o nu, o cubras, e não te escondas da tua carne? (Isaías 58:5–7)
O que Deus mais prefere: observância religiosa ou justiça? “Com que me apresentarei ao Senhor, e me inclinarei diante do Deus altíssimo? Apresentar-me-ei diante dele com holocaustos, com bezerros de um ano? Agradar-se-á o Senhor de milhares de carneiros, ou de dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão, o fruto do meu ventre pelo pecado da minha alma? Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benignidade, e andes humildemente com o teu Deus?” (Miquéias 6:6–8)
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