[24] Pensamento de Longuíssimo Prazo, em Prol das Gerações Futuras: o cerne da profecia bíblica clássica

A Estrela da Redenção
3 min readJul 2, 2020

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Como vimos no post anterior, a profecia israelita clássica NÃO é sobre prever o futuro. Mas sobre o que ela é?

O grande cerne do profetismo num sentido existencial foi inspirar um pensamento de longuíssimo prazo para frente e um pensamento histórico para trás. É preciso recontar a história passada, medida em séculos. Assim, poderemos discernir o futuro que virá, também medido em séculos. Só assim poderemos enfrentar adequadamente os desafios do presente.

E isso significa se preocupar com as futuras gerações, ao invés do imediatismo de se preocupar apenas conosco individualmente ou com nossa geração presente.

O que os profetas fizeram foi trazer à consciência essa necessidade de pensar a vida da comunidade em SÉCULOS. Sim, agora as coisas estarão ruins. Mas é preciso persistir porque daqui há muito tempo haverá a redenção. Sim, você talvez não veja nada disso, eu (o profeta) também não. Mas seus tataranetos o verão. E quando isso se concretizar, a SUA vida terá valido à pena, na retrospectiva.

Por exemplo, Jeremias anunciava que o exílio babilônio duraria 70 anos. Isso significa que, supondo que você tivesse nascido 30 anos antes da data inicial, você não veria o retorno. Mas seu neto ou bisneto veria esse retorno. Por isso Jeremias envia uma carta aos exilados trazendo uma mensagem que pede para fazer o que for preciso hoje pela esperança de uma vida melhor para as gerações futuras:

“Edificai casas e habitai-as; e plantai jardins, e comei o seu fruto. Tomai mulheres e gerai filhos e filhas, e tomai mulheres para vossos filhos, e dai vossas filhas a maridos, para que tenham filhos e filhas; e multiplicai-vos ali, e não vos diminuais. E procurai a paz da cidade, para onde vos fiz transportar em cativeiro, e orai por ela ao Senhor; porque na sua paz vós tereis paz. (…) Certamente que passados setenta anos em babilônia, vos visitarei, e cumprirei sobre vós a minha boa palavra, tornando a trazer-vos a este lugar.” (Jeremias 29:5–7)

Exemplo extremo dessa atitude judaica é mostrada no segundo exílio, a diáspora judaica que foi do início do segundo século até meados do vigésimo século (com a fundação do Estado de Israel em 1948). Sem terra, sem Estado, em meio a outras nações muitas vezes hostis, os judeus seguiram o conselho de Jeremias e persistiram como uma CIVILIZAÇÃO LETRADA PORTÁTIL por DEZOITO SÉCULOS.

Primeiro Protótipo do “Clock of the Long Now” (Relógio do Longuíssimo Prazo), construído para funcionar por 10.000 anos. Da Long Now Foundation, que promove o pensamento de longuíssimo prazo.

No extremo disso temos os judeus da Etiópia (sim, judeus negros, africanos); De tão isolados que ficaram ao longo de muitos séculos, muitos judeus etíopes tinham vindo a acreditar até meados do século passado que eram os ÚLTIMOS judeus da face do planeta. Imagine o sentimento que eles tiveram quando descobriram que o Estado de Israel havia sido fundado…

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Releitura existencial da Bíblia Hebraica via existencialismo judaico + tradição judaica e pesquisa bíblica acadêmica. Doutor em Filosofia Valdenor Brito Jr.