[24] Pensamento de Longuíssimo Prazo, em Prol das Gerações Futuras: o cerne da profecia bíblica clássica
Como vimos no post anterior, a profecia israelita clássica NÃO é sobre prever o futuro. Mas sobre o que ela é?
O grande cerne do profetismo num sentido existencial foi inspirar um pensamento de longuíssimo prazo para frente e um pensamento histórico para trás. É preciso recontar a história passada, medida em séculos. Assim, poderemos discernir o futuro que virá, também medido em séculos. Só assim poderemos enfrentar adequadamente os desafios do presente.
E isso significa se preocupar com as futuras gerações, ao invés do imediatismo de se preocupar apenas conosco individualmente ou com nossa geração presente.
O que os profetas fizeram foi trazer à consciência essa necessidade de pensar a vida da comunidade em SÉCULOS. Sim, agora as coisas estarão ruins. Mas é preciso persistir porque daqui há muito tempo haverá a redenção. Sim, você talvez não veja nada disso, eu (o profeta) também não. Mas seus tataranetos o verão. E quando isso se concretizar, a SUA vida terá valido à pena, na retrospectiva.
Por exemplo, Jeremias anunciava que o exílio babilônio duraria 70 anos. Isso significa que, supondo que você tivesse nascido 30 anos antes da data inicial, você não veria o retorno. Mas seu neto ou bisneto veria esse retorno. Por isso Jeremias envia uma carta aos exilados trazendo uma mensagem que pede para fazer o que for preciso hoje pela esperança de uma vida melhor para as gerações futuras:
“Edificai casas e habitai-as; e plantai jardins, e comei o seu fruto. Tomai mulheres e gerai filhos e filhas, e tomai mulheres para vossos filhos, e dai vossas filhas a maridos, para que tenham filhos e filhas; e multiplicai-vos ali, e não vos diminuais. E procurai a paz da cidade, para onde vos fiz transportar em cativeiro, e orai por ela ao Senhor; porque na sua paz vós tereis paz. (…) Certamente que passados setenta anos em babilônia, vos visitarei, e cumprirei sobre vós a minha boa palavra, tornando a trazer-vos a este lugar.” (Jeremias 29:5–7)
Exemplo extremo dessa atitude judaica é mostrada no segundo exílio, a diáspora judaica que foi do início do segundo século até meados do vigésimo século (com a fundação do Estado de Israel em 1948). Sem terra, sem Estado, em meio a outras nações muitas vezes hostis, os judeus seguiram o conselho de Jeremias e persistiram como uma CIVILIZAÇÃO LETRADA PORTÁTIL por DEZOITO SÉCULOS.
No extremo disso temos os judeus da Etiópia (sim, judeus negros, africanos); De tão isolados que ficaram ao longo de muitos séculos, muitos judeus etíopes tinham vindo a acreditar até meados do século passado que eram os ÚLTIMOS judeus da face do planeta. Imagine o sentimento que eles tiveram quando descobriram que o Estado de Israel havia sido fundado…
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