[25] Profecia Bíblica Clássica, a Ética Ambiental e o Futuro da Espécie Humana
Um bom paralelo em relação ao pensamento de longuíssimo prazo em prol das gerações futuras preconizado pelo profetismo israelita clássico está na ética ambiental, em especial no que diz respeito à questão do aquecimento global antropogênico.
Um conceito muito usado no âmbito da ética ambiental (e do Direito ambiental) é a ideia de que temos de garantir os interesses das gerações futuras também.
Se poluirmos o mundo inteiro hoje, se esgotarmos os recursos naturais no presente, as gerações futuras não poderão usufruir dos recursos naturais e de um meio ambiente mais limpo. Mas isso é INJUSTO com as gerações futuras.
O correto seria que nós tomássemos medidas para impedir a poluição excessiva e o esgotamento de recursos naturais não renováveis, e fizéssemos um desenvolvimento sustentável. NÓS, isto é, as pessoas do presente, das gerações presentes. Medidas estas que talvez possam diminuir um pouco nosso padrão de vida presente, mas garantirão um grande bem-estar para as gerações futuras!
Um caso extremo disso na ética ambiental é o aquecimento global antropogênico. O aquecimento global traz riscos existenciais à espécie humana. Então, deveríamos fazer tudo que fosse possível hoje, para impedir algo que acontecerá muito tempo depois, tempo este onde nenhum de nós estará vivo.
Por que tentar minorar ou reverter o aquecimento global? Porque nossos descendentes e/ou os descendentes das pessoas da nossa geração, deveriam ter a oportunidade de viver no futuro sem uma condição climática tão ruim que nós poderíamos ter evitado. E esse raciocínio também pode ser usado para os descendentes dos animais e plantas que vivem hoje.
O filósofo Derek Parfit em seu livro Reasons and Persons comenta que a diferença entre uma guerra nuclear que matasse 99% da população e uma que matasse 100% é gigantesca. Isso significa que é pior matar os últimos 1% da humanidade do que 99% da humanidade se ainda puder persistir 1%.
Por que Parfit pensa assim? Porque seria a diferença entre a história da civilização humana ao longo dos últimos milhares de anos, e uma potencial história da civilização humana de MILHÕES DE ANOS que poderá vir. Ou seja, matar 99% pode parecer um número maior do que matar 1%. Mas aqueles últimos 1% na verdade são um número astronomicamente maior, porque ‘mata’ também trilhões de vidas que haveriam de vir no futuro!
É justamente isso que a profecia bíblica clássica, guardadas as devidas proporções, pensou para o povo de Israel. Coisas que fazemos hoje podem prejudicar gerações futuras. Coisas que fazemos hoje podem extinguir nossa comunidade. Mas também coisas que fazemos hoje podem amenizar o que ocorrerá. E as gerações futuras poderão ter a dádiva de se beneficiar de um bom tempo.
É preciso persistir não somente pensando no presente ou no futuro imediato, mas no futuro de longo prazo. Mais ainda: de longuíssimo prazo. Sim, o bem das gerações futuras IMPORTA. Mesmo que ele seja o bem de gerações MILÊNIOS à frente.
E com isso os profetas criaram o POVO ETERNO. Um povo PEQUENO que mesmo SEM terra, poderio militar ou governo conseguiu sustentar uma civilização ERUDITA de maneira portátil por quase 2 milênios sem ser extinto ou assimilado.
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