[196] Satã é ALIADO de Deus no ‘Velho’ Testamento [Bíblia Hebraica]

A Estrela da Redenção
2 min readApr 8, 2022

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Quando você escuta a palavra ‘Satã’ provavelmente você pensa em um inimigo de Deus, que se opõe a tudo quanto é bom, e responsável por tudo de ruim que acontece no mundo.

Mas e se eu te dissesse que, lá na seção ‘Velho’ Testamento (como vulgarmente é conhecida a Bíblia Hebraica) da Bíblia que a maioria tem em suas casas, na verdade Satã é um ALIADO de Deus?

Existem apenas 2 vezes em que uma figura interpretável como sendo Satã, ou mais precisamente Satan (שָׂטָן) dá as caras na Bíblia Hebraica: no livro de Jó (capítulos 1 e 2) e no livro de Zacarias (capítulo 3).

Em ambos os casos, não estamos diante de um anjo rebelde, mas simplesmente de um anjo acusador, que faz o papel de ministério público na corte celestial, acusando os seres humanos de algum erro ou defeito.

Assim, a figura do Satan é a de um anjo OBEDIENTE e FIEL a Deus que faz “um trabalho sujo, mas que alguém tem de fazer”: o de acusar os outros de terem feito algo errado.

“Figure Kneeling Before Arch with Skulls” [Figura se ajoelhando diante de arca com crânios], Jackson Pollock, 1934–1938.

O termo “satan” no hebraico é um termo genérico para “acusador” ou “adversário”, sendo aplicável a seres humanos ocupando referida função ou status (militar, político ou jurídico) em relação a outra(s) pessoa(s). Aí o anjo que ocupa tal função é chamado de “satan” por conta disso.

Na tradição judaica quando Satan “tenta” alguém, é para testá-lo a pedido do (ou pelo menos com a anuência do) próprio Deus, então Deus e Satan são ALIADOS. Isso é verdade mesmo que, para nós humanos, Satan seja um adversário, pois seu trabalho, apesar de necessário, resulta em males para nós. Ou seja, o trabalho de Satan é um “mal necessário” ou “um trabalho sujo que alguém tem que fazer” na visão judaica. Satan é nosso Promotor Público basicamente.

Portanto, no contexto da Bíblia Hebraica ou ‘Velho’ Testamento, Satan não está contra Deus, mas sim contra nós, exercendo uma função necessária, mesmo que ruim. Essa função contrasta com a dos líderes do povo judeu, que são chamados a defender o povo perante Deus, como exemplificado por Moisés em Êxodo 32. Em todos os casos, ambas as funções fariam parte da ordem divina do mundo.

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A Estrela da Redenção

Releitura existencial da Bíblia Hebraica via existencialismo judaico + tradição judaica e pesquisa bíblica acadêmica. Doutor em Filosofia Valdenor Brito Jr.