[138] Desobediência do Anjo Gabriel: Metodologia Rabínica Ilustrada
No post anterior, falei a respeito de um trecho do Talmude que discutia uma interpretação segundo a qual o anjo Gabriel DESOBEDECEU a Deus para salvar o povo judeu, com base em certos trechos dos livros de Ezequiel e de Daniel (da Bíblia Hebraica, vulgarmente conhecida como “Velho” Testamento).
Nos posts [107]-[110]-[111]-[112], eu comentei acerca da metodologia rabínica para entender a Torá. No presente texto, usarei o caso discutido no texto anterior para mostrar como ele ilustra a aplicação da metodologia rabínica de interpretação textual, especialmente por meio do midrash e da agadá. O objetivo será dissecar para o leitor qual o PROCESSO DE PENSAMENTO E RACIOCÍNIO que leva o Talmude a afirmar o que afirma nesse trecho.
Recapitulando o texto anterior, vimos que os rabinos elaboraram, por meio de interpretação, uma conexão entre 2 trechos de 2 livros bíblicos, o livro de Ezequiel e o livro de Daniel, e o fizeram por meio da agadá a respeito da desobediência e punição do anjo Gabriel, cujo intuito fora reduzir a reprimenda sofrida pelo povo judeu por ocasião da destruição do Primeiro Templo pelas mãos dos babilônios. Como eles conseguiram fazer tal conexão, e por que a fizeram?
Primeiro, os livros de Ezequiel e de Daniel têm pontos em comum significativos.
Ezequiel compila as várias mensagens e visões proféticas tidas pelo Profeta Ezequiel enquanto este estava exilado em Babilônia, enquanto Daniel compila visões e sonhos tidos pelo Sábio Daniel (exilado em Babilônia) e pelo próprio Rei Nabucodonosor de Babilônia, bem como aventuras lendárias de Daniel e outros 3 exilados judeus na Corte dos Reis da Babilônia e depois dos Reis da Pérsia (que conquistaram Babilônia). Assim, ambos tem como fio condutor o exílio babilônico.
Além disso, ambos os livros são os livros mais místicos de toda a Bíblia Hebraica.
Ezequiel vê a Carruagem Divina (Merkavah) com querubins, serafins e a própria Presença Divina indo até as terras babilônicas. Em um transe intenso, o Profeta (que estava em terras babilônicas) vê o que está acontecendo em Jerusalém bem longe como se estivesse presente ali. No final do livro, ele tem mesmo um vislumbre detalhado de de um futuro Templo reconstruído com todo o esplendor da glória divina nele.
Já Daniel conversa com anjos que lhe dão certas mensagens cifradas e a chave pela qual tais mensagens podem ser decodificadas, bem como têm visões a respeito de Criaturas Criptozooólogicas que simbolizam grandes impérios e como tais Criaturas seriam derrotadas por um decreto da Corte Celestial, envolvendo figuras simbólicas como o Ancião de Dias e um como o Filho do Homem. Daniel não é um profeta, mas sim um sábio, e nessa condição ele recorre a uma série de numerologias intrincadas (com a ajuda dos anjos) para permitir uma futura decifração dos segredos contidos nesse livro.
Então, ambos os livros também têm como um fio condutor comum a exposição de Mistérios e Segredos de natureza muito sutil e simbólica….
Aí os Rabinos ligaram as seguintes partes desses 2 livros:
- Em Ezequiel 8–10, o Profeta Ezequiel é levado em visão até o Templo em Jerusalém para testemunhar as diversas profanações ali cometidas. Com isso a destruição da cidade e do próprio Templo é determinada por Deus em sua Carruagem, e Deus ordena que ‘um homem vestido de linho’ pegue brasas de baixo da asa do Querubim. Quando o homem vestido de linho vai fazê-lo, o Querubim pega o fogo e o passa para as mãos do homem vestido de linho. Por fim, o homem vestido de linho testifica que sua missão fora cumprida.
- Em Daniel 10, que acontece aproximadamente 50 anos depois dos acontecimentos de Ezequiel 8–10, o Sábio Daniel estava no aguardo de que o anjo Gabriel, que no capítulo anterior lhe dará uma mensagem cifrada a respeito da real quantidade de tempo por detrás da profecia de Jeremias, lhe fornecesse alguma chave decodificadora para entender o que estava por trás da mensagem cifrada. Com isso Daniel passa 3 semanas aguardando, fazendo jejum e agindo como se estivesse de luto. Após 3 semanas, um “homem vestido de linho” aparece, avisando que havia demorado porque tinha estado ocupado lutando com o anjo ministrador da Pérsia por 21 dias (i. e. 3 semanas), e que logo viria também o anjo ministrador da Grécia. É esse homem vestido de linho quem decifra a mensagem a respeito da quantidade de tempo por detrás da profecia de Jeremias.
Note que, nos textos em questão, não encontramos referência acerca de uma desobediência e punição cometida pelo Anjo Gabriel. Mas é para conectar essas duas partes que os Rabinos elaboram sobre tal lenda/narrativa imaginativa, o que chamamos de Agadá.
Assim, eles conseguem expandir o significado desses 2 textos bíblicos para além de seu contexto imediato, por prestar atenção às intertextualidades e aos detalhes sutis dos textos, o que chamamos de Midrash, o método interpretativo rabínico por excelência.
Sem mais delongas, vamos ver como isso funciona.
Primeiro, os Rabinos conectam esses 2 textos diretamente por conta de uma figura que aparece unicamente nesses 2 livros bíblicos: o “homem vestido de linho”. O mesmo termo em hebraico é utilizado quando o personagem é mencionado pela primeira vez dessa forma, tanto em Daniel 10:5 e Ezequiel 9:2, um homem vestido de linho [אִישׁ־אֶחָ֖ד לָב֣וּשׁ בַּדִּ֑ים].
Quando dois termos idênticos são usados em diferentes partes da Escritura, isso permite a princípio conectá-las. Claro que muitos termos em hebraico aparecem em diversas partes das Escrituras, contudo, no caso de termos que aparecem raramente, esse método se torna muito relevante na tentativa de elucidar a palavra ou expressão em questão, nos termos da interpretação tradicional da própria cultura que gerou referidos textos.
Por razões internas ao livro de Daniel e dentro da tradição oral, os Rabinos entendem que o homem vestido de linho é o mesmo anjo Gabriel que aparece anteriormente nos capítulo 8 e 9 daquele livro, e por isso consideram o homem vestido de linho em Ezequiel 9–10 como sendo o anjo Gabriel também.
Aqui o raciocínio é por transitividade: se o homem vestido de linho em Ezequiel e em Daniel é o mesmo personagem (pelo termo hebraico utilizado), e se o homem vestido de linho em Daniel é o anjo Gabriel anteriormente citado em Daniel, logo, o homem vestido de linho em Ezequiel é o anjo Gabriel.
Rigorosamente falando, o raciocínio dos rabinos não depende dessa identificação entre o homem vestido de linho e Gabriel estar correta, contudo, tal identificação rende vantagens explanatórias para essa posição. Os rabinos assumem que, se conseguimos explicar melhor alguma interpretação da Escritura assumindo menos personagens, isso é uma razão para pensar que há sim menos personagens, apesar de serem usados nomes distintos.
Os rabinos utilizam dessa ferramenta para determinar se às vezes nomes diferentes devem ser entendidos como duas pessoas diferentes ou como a mesma pessoa nomeada de duas maneiras diferentes.
Como é bem conhecido daqueles que conhecem um pouco de narrativa bíblica, não é incomum que um personagem tenha 2 nomes. Casos bem conhecidos disso são Abrão/Abraão, Sarai/Sara, Jacó/Israel. Mas esses são os casos fáceis, pois a própria narrativa afirma explicitamente o momento em que o novo nome foi recebido.
Há, entretanto, os casos difíceis, onde tal dúvida pode surgir, e, na discussão tradicional rabínica, eles favorecem hipóteses de identificação entre o que parecem ser diferentes personagens por conta de diferentes nomes, quando isso “simplifica” a interpretação, explicando mais coisas dentro do texto bíblico do que se assumíssemos a hipótese de não-identificação.
Para dar um exemplo, no livro de Gênesis, Melquisedeque é identificado com Sem (filho de Noé e ancestral de Abraão) e Ketura (a esposa de Abraão após a morte de Sara) é identificada com Agar (que fora por um tempo concubina de Abraão antes que Sara engravidasse de Abraão).
Isso significa que nós devemos necessariamente entender que de fato Melquisedeque é Sem ou Ketura é Agar? Não. Mas é uma possibilidade textual plausível trazida à tona pelos rabinos clássicos, cuja maneira de raciocinar com esses textos era muito mais afim ao estilo de raciocínio e framework cultural subjacente aos textos.
Então, tecnicamente, podemos ler tais textos do Gênesis pelo menos de quatro formas: uma na qual haja quatro personagens distintos, duas na qual haja três personagens distintos (aceitando uma das hipóteses de identidade, mas rejeitando a outra) e uma na qual haja apenas dois personagens distintos.
Similarmente, podemos ler Daniel seja assumindo que existem 2 personagens distintos (o anjo Gabriel e o homem vestido de linho) seja assumindo que há 1 único personagem com 2 diferentes designações (o anjo Gabriel = o homem vestido de linho).
O que os rabinos nos apontam é que cada uma dessas opções terá consequências, tanto para o livro de Ezequiel (o anjo Gabriel aparece ou não lá?), quanto para as tradições narrativas/lendárias (i. e. agadá) da Torá Oral (quando elas se referem ao anjo Gabriel, podemos conectar isso ao homem vestido de linho ou não?).
Assim, agora estamos de posse de uma conexão gramatical entre os 2 textos por meio do ‘homem vestido de linho’ e de uma conexão plausível entre os 2 textos com aggadot relativas ao anjo Gabriel.
Precisamos de um ingrediente adicional: os Rabinos talmúdicos perceberam que, da maneira como o texto de Ezequiel está escrito, existe uma discrepância entre a ordem divina e o que o homem vestido de linho de fato fez. Deus ordenou que o homem vestido de linho pegasse diretamente o fogo de debaixo do querubim, mas o homem vestido de linho aguardou que o próprio querubim pegasse o fogo e o entregasse. Então, na ordem divina, o fogo passaria por 1 mão, enquanto, na execução da ordem, o fogo passou por 2 mãos. Dessa forma, somos levados a concluir que o homem vestido de linho deliberadamente não quis cumprir à risca a ordem divina.
Nesse ponto esse trecho do Talmude não nos indica explicitamente a premissa em questão, mas podemos encontrar isso em outras partes e mesmo na Bíblia Hebraica: é possível que anjos errem e mesmo descumpram ordens divinas, desde que não se trate de uma rebelião contra Deus, um tópico que já abordei nos posts [101]-[117]. Para uma referência bíblica explícita disso, encontramos na poesia do livro de Jó, na qual Elifaz o Temenita relata o sussurro de uma voz ‘espiritual’ por ele ouvido em um sonho (ou paralisia do sono?):
“Uma coisa me foi trazida em segredo; e os meus ouvidos perceberam um sussurro dela.
Entre pensamentos vindos de visões da noite, quando cai sobre os homens o sono profundo,
Sobrevieram-me o espanto e o tremor, e todos os meus ossos estremeceram.
Então um espírito passou por diante de mim; fez-me arrepiar os cabelos da minha carne.
Parou ele, porém não conheci a sua feição; um vulto estava diante dos meus olhos; houve silêncio, e ouvi uma voz que dizia:
Seria porventura o homem mais justo do que Deus? Seria porventura o homem mais puro do que o seu Criador?
Eis que ele não confia nos seus servos e aos seus anjos atribui loucura;
Quanto menos àqueles que habitam em casas de lodo, cujo fundamento está no pó, e são esmagados como a traça!
Desde a manhã até à tarde são despedaçados; e eternamente perecem sem que disso se faça caso.
Porventura não passa com eles a sua excelência? Morrem, mas sem sabedoria.” (Jó 4:12–21)
Trouxe o trecho complexo de Jó nesse ponto, porque, à semelhança de Ezequiel e Daniel, tal trecho também diz respeito a visões em um transe envolvendo criaturas transcendentes. E aqui o sussurro ouvido num transe profético atesta que mesmo os anjos estariam sujeitos ao erro e, assim, ao julgamento de seus atos. (Rashi conclui que a presença escutada por Elifaz seria um anjo, fazendo um paralelo com o Salmo 104:4)
Contudo, aceitar que o homem vestido de linho não cumpriu a ordem divina tal como dita e, assim, a desobedeceu em parte, gera o seguinte problema: o homem vestido de linha afirmou que cumpriu exatamente o que lhe fora ordenado. Então, o anjo teria faltado com a verdade/mentido nesse momento.
Daí aqui vem a relevância de identificar o homem vestido de linho com Gabriel, permitindo usar uma agadá (lenda/narrativa imaginativa) contada pelo Rabbi Yohanan, a respeito de como nesse momento Gabriel fora expulso da proximidade direta da Presença Divina por meio de 60 socos de fogo desferidos por outros anjos. O fogo aqui inclusive remete ao objeto da ordem divina descumprida parcialmente por Gabriel. E o questionamento dos anjos nessa tradição ensinada por R. Yohanan ainda mostra que a reprimenda a Gabriel se deveu ao fato dele ter dito o que disse, não por ele não ter feito exatamente como Deus mandara no tocante às brasas do Querubim.
Isso significa que o anjo Gabriel tinha sim um motivo válido para não obedecer a ordem divina exatamente como fora ordenada. E aqui novamente encontramos um Rabbi específico apresentando uma opinião específica: Rav Hana bar Bizna disse que Rabbi Shimon Hasida disse que o fogo “esfriou” por ter passado por duas mãos. Então, se o fogo esfria por passar em duas mãos ao invés de uma (algo que sabemos pela nossa experiência humana concreta), Gabriel fez o que fez de propósito para esfriar o fogo. E “esfriar o fogo” significa reduzir a punição devida, dado que maior a temperatura pior o estrago feito pelo fogo. Por que reduzir a punição? Porque a que ocorreria sem o esfriamento seria dura demais (por exemplo, levando à destruição do inteiro povo judeu, mesmo dos judeus fiéis à Aliança).
E aqui reside o ponto que o Talmude quer nos levar a pensar e discutir: quais os limites da obediência ao próprio Deus? Uma aparente ordem divina cuja consequência seja irrazoável deve ser obedecida? Qual atributo divino é superior, a bondade ou a justiça? Uma ordem divina específica anula os princípios gerais da Torá, ou, ao contrário, os princípios gerais da Torá é que limitam ordens divinas aparentemente em desacordo a eles? A mão pesada da justiça precisa sempre ser equilibrada pela mão leve da misericórdia? Deus errou ao pronunciar aquela ordem? Seria possível dizer que, no fundo, Deus queria ser desobedecido? E se Ele queria ser desobedecido, então desobedece-lo nesse caso na verdade seria obedecê-lo de qualquer forma? O que significa o fato de que Gabriel não foi punido exatamente pelo descumprimento parcial da ordem, mas sim por ter dito que a cumprida? Significa que Gabriel fora isentado da punição cabível por um exercício da misericórdia divina, ou, ao contrário, que a ação de Gabriel fora totalmente legítima e justa, não cabendo punição?
E não para por aí. Como agora tornou-se possível dizer que o homem vestido de linho recebera alguma reprimenda pelo que disse em Ezequiel 9, e como esse mesmo personagem aparece em Daniel 10, haveria algum indício dessa reprimenda em Daniel 10? Os Rabinos pensaram que sim, pois ali o homem vestido de linho (o anjo Gabriel) fala que passou por dificuldades nas mãos de outro anjo, o anjo ministrador da Pérsia.
Nas aggadot da tradição oral, também ouvimos falar sobre esse personagem. Ele é chamado de Anjo Dubiel. Então os 21 dias de embate entre Gabriel e Dubiel estaria relacionado à expulsão de Gabriel do local mais elevado que ocupara, o qual teria sido temporariamente ocupado por Dubiel. Como Dubiel é um anjo parcial em relação aos interesses da Pérsia (nas tradições orais a respeito do papel dos anjos ministradores de cada povo), ele usou dessa localização temporária para maximizar as vantagens para a Pérsia em termos de sua dinastia real. Quis mesmo fazer todos os judeus pagarem impostos para os persas, mas Gabriel conseguiu impedir que isso fosse aplicado de forma consistente, após ter usado o nome de Daniel para voltar até o local do qual fora expulso e no qual Dubiel estava. Então aqui vemos primordialmente tradições orais agádicas sendo usadas pra falar dos mistérios e segredos que o texto apenas muito vagamente sugere.
Um ponto importante para esclarecer aqui é que o conteúdo da Agadá não é autoritativo (R. Saadia; R. Hai Gaon; veja Otzar Ha-Geonim, Hagigah, p. 59 e 65). Nesse sentido, é possível mesmo aceitar aggadot mutuamente contraditórias, pois não se resolvem contradições em termos de agadá. Simplesmente não é necessário fazê-lo, pois o mais importante é aprender delas, não necessariamente crer nelas. E nesse sentido as aggadot constantes do Talmude possuem maior peso que aquelas constantes de outros textos da tradição oral judaica como os Midrashim, mas mesmo as do Talmude podem ser rejeitadas se não fizerem sentido (R. Hai Gaon). Assim, em matéria de Agadá, estamos diante de estimações, que podem ou não ser corretas, e que seguem visões de diferentes rabinos; o mais importante é seguir aquelas que seguem da lógica ou dos versos (R. Sherira Gaon, citado por Sefer HaEshkol/Hilkhot Sefer Torah).
Esclarecido, sigo aqui o existencialista judaico R. Abraham Joschua Heschel em defender a importância do método do Midrash e da Agadá para formação do pensamento judaico. Recomendo “Heavenly Torah: as refracted through the generations” (originalmente escrito em hebraico) de R. Heschel. Por conta dessa posição a respeito da relevância da agadá, R. Heschel é por vezes chamado de “aggadic man”, o homem agádico. Em língua portuguesa, recomendo o “Dicionário Judaico de Lendas e Tradições”, de Alan Uterman, cujo objetivo declarado é explorar o material agádico judaico.
E como falei no post anterior, em nota à edição Koren do Talmude Babilônico do tratado de Yoma, o rabino Adin Steinsaltz nos alerta que todo esse trecho a respeito do anjo Gabriel é cheio de metáfora e alusão. Justamente por ser profundamente agádico. Um exemplo disso pode ser observado nessa questão do Anjo Dubiel da Pérsia, que reflete a ideia de que acontecimentos na esfera celestial/transcendente repercutem ou espelham acontecimentos na esfera terrestre/imanente. Ou o fato de que o tempo transcorrido no domínio transcendental parece correr de um tempo completamente diferente do transcorrido no domínio terrestre (veja o post anterior para minha explicação a respeito disso).
No fim, percebemos que, com todo esse processo de pensamento intrincado, a Guemará nos convida a refletir sobre como seria se uma criatura mística altamente próxima de Deus se encontrasse num dilema entre uma obediência estrita e uma justiça severa, de um lado, e o bem-estar de longo prazo das criaturas de Deus, de outro. Ao imaginarmos isso com a ajuda das Escrituras e de tradições orais agádicas, acabamos concluindo que lutar em favor do povo de Deus (e, por extensão, da humanidade) é mais importante do que obedecer ordenanças divinas ao pé da letra. Essa é a vontade divina em seu sentido último e definitivo — mesmo que contra a vontade manifesta de Deus!
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