[112] Explicando a Sequência Judaica dos Livros da Bíblia Hebraica

A Estrela da Redenção
13 min readMay 7, 2021

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Se você abrir uma Bíblia Cristã, na parte correspondente ao “Velho” Testamento, e uma Bíblia Judaica, você notará uma diferença muito importante. Isso ocorre mesmo se a Bíblia Cristã em questão for protestante, caso no qual os livros são exatamente os mesmos constantes de uma Bíblia Judaica. Mesmo com a identidade de texto, há uma diferença: a ordem/sequência dos livros.

Isso significa que a Bíblia Hebraica está organizada de forma diferente entre judeus e entre cristãos. Na Bíblia Cristã, o “Velho” Testamento é uma coleção única de textos contrastada com o Novo Testamento. Já na Bíblia Judaica, temos três coleções de texto: Torá, Neviim, Ketuvim.

E se você ler os livros na sequência, a primeira discrepância surge no que seria o 8º livro da Bíblia Hebraica: os cristãos colocam “Rute” enquanto os judeus colocam “[1]Samuel”. Uma das diferenças mais gritantes está na localização dos livros proféticos: no centro da Bíblia Hebraica, entre os judeus, no fim do “Velho” Testamento, entre os cristãos. O livro final entre os cristãos é [o do profeta] Malaquias, iniciando em seguida o Novo Testamento. Já o livro final entre os judeus é [1–2]Crônicas, um livro que reconta a história judaica da origem do ser humano até o exílio babilônico!

Talvez alguém fosse tentado a achar que essa diferença de ordem é uma diferença meramente cosmética, não mudando nada de substancial. Mas o fato é que a ordem original, isto é, a judaica, organiza bem melhor os textos que a ordem cristã. Vou explicar o porquê.

A ordem cristã é “temática”: ela recorta a Bíblia Hebraica em “temas” (ou “estilos literários” e coloca todos os livros duma mesma temática juntos.

Então, entre os cristãos, você começa lendo os “Livros Históricos”: os 5 livros da Lei de Moisés (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio), Josué, Juízes, Rute, [1–2]Samuel, [1–2]Reis, [1–2]Crônicas, Esdras, Neemias, Ester.

Esse conjunto faz uma história de Israel que vai desde o início do mundo até o período persa pós-exílio babilônico. Nesse esquema, o leitor leria tudo o que tem disponível sobre a história de Israel (e o livro de Rute, apesar de não narrar a história de Israel, introduziria a pessoa de Davi a partir do relato de sua ancestral originalmente moabita que se converteu em judia).

Depois (entre os cristãos), você lê os “Livros de Sabedoria e Livros Poéticos”: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos. Em seguida, para finalizar o “Velho” Testamento, os livros proféticos, divididos entre 5 Profetas Maiores (Isaías, Jeremias, Lamentações [de Jeremias], Ezequiel, Daniel) e 12 Profetas Menores (Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias). Aqui uma diferença marcante é que para os judeus nem Lamentações nem Daniel são livros proféticos. Então no caso judaico há apenas 3 Profetas Maiores, não 5.

Assim, a ordem cristã segue três porções temáticas: 1) História do Antigo Israel (completa); 2) Sabedoria e Poesia do Antigo Israel; 3) Profecia do Antigo Israel. O motivo da Profecia vir ao final é que ela “prepararia” o terreno para o Novo Testamento na interpretação cristã.

A ordem original judaica é MUITO diferente:

1)Torá (Instrução): Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio.

2) Neevim (Profetas):

a) Profetas Anteriores: Josué, Juízes, [1–2]Samuel, [1–2]Reis;

b) Profetas Posteriores: Isaías, Jeremias, Ezequiel, compilado dos 12 menores (Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias).

3) Ketuvim (Escritos):

a) Livros da Verdade (Sifrei Emet): Salmos, Provérbios, Jó;

b) as 5 Meguillot: Cântico dos Cânticos, Rute, Lamentações, Eclesiastes, Ester;

c) Daniel; Esdras-Neemias (num único livro); [1–2]Crônicas.

Note que a ordem cristã deriva de uma reestruturação da ordem judaica sob o critério temático já analisado. Para um leitor mais familiarizado com a ordem cristã, a ordem judaica pode parecer à primeira vista muito esquisita, pois ela não coloca tudo duma mesma temática na mesma categoria. Mas a questão é que aquelas 3 grandes temáticas como pensadas pelos cristãos não são a forma mais orgânica de dividir esses textos em termos da cultura na qual foram escritos.

Na ordem judaica, temos coletâneas, não temas. As coletâneas tem como fio condutor o papel que esses livros desempenham na ALIANÇA entre Deus e o povo judeu.

“Compositie in kleur A” [Composição em Cor — A], Piet Mondrian, 1917.

A primeira coletânea a ser organizada foi a da Torá (cuja tradução seria “Instrução”). Trata-se da Constituição da Aliança. As instruções fundamentais que colocam por escrito os termos básicos da Aliança e como o povo judeu surgiu historicamente em decorrência dessa Aliança.

A Torá inteira é dividida em 54 parashiot (singular: parashá), porções de leitura para estudo e liturgia semanais em um ciclo anual, como expliquei no post [110]. A divisão em parashiot segue um ritmo bem literário, cada parashá geralmente deixando para o leitor alguma inconclusão a ser respondida pela próxima parashá.

A segunda coletânea a ser organizada foi a dos Neviim (cuja tradução seria “Profetas”). Trata-se da aplicação concreta da Aliança na “Primeira História de Israel na terra prometida”.

Por isso em sua porção histórico-narrativa, chamada de Profetas Anteriores, a história de Israel é contada a partir da sua chegada na terra prometida (Josué) e termina com sua expulsão da terra prometida com o exílio babilônico ([1–2] Reis), que foi a PRIMEIRA estadia do povo judeu na terra prometida e, assim, a primeira aplicação concreta da Aliança.

Já na porção dos profetas literários, chamada de Profetas Posteriores, vemos os discursos poéticos dos antigos profetas israelitas que viveram um período que vai do final do período descrito em [1–2]Reis, anterior ao exílio babilônico, até o retorno desse exílio (o qual será descrito em Esdras-Neemias na terceira coletânea).

Aqui os Profetas explicam PORQUE Israel acabou por sofrer o exílio, nos termos da Aliança, mas também como havia esperança para Israel evitar o exílio ou dele retornar, também nos termos da Aliança. No processo de fazê-lo destacam a preocupação com a justiça social e a rejeição à idolatria como o próprio centro da Torá, em todas as partes dela.

Assim, vemos que a coletânea dos Neviim/Profetas é conectada à da Torá de uma forma muito direta. A Torá coloca os fundamentos da Aliança. Os Profetas Anteriores (histórico-narrativos) contam e refletem em cima da primeira estadia do povo judeu na terra prometida, isto é, a primeira vivência da Aliança. Os Profetas Posteriores (proféticos-literários) discorrem poeticamente sobre os meandros da Aliança, em suas exigências e consequências, durante o final da primeira estadia do povo judeu na terra prometida, a interrupção dessa estadia e o início da segunda estadia.

É nos Neviim que encontramos pela primeira vez as tradições relativas a alianças menores dentro da Aliança: uma aliança com Davi para que apenas seus descendentes possam ocupar de forma legítima o cargo de rei do povo judeu e uma aliança com Sião (Jerusalém) para que apenas nessa cidade o Templo possa existir.

Por que Esdras-Neemias (que daria sequência ao fim de [1–2]Reis) não está nos Neevim, mas apenas nos Ketuvim? Entenderemos melhor quando chegarmos nos Ketuvim, mas aqui já dá pra antecipar que a coletânea dos Neevim pretende narrar um ciclo da história de Israel que abriu com a chegada do povo na terra e se concluiu com o exílio babilônico. Ela narra um ciclo completo, que termina com uma destruição total. Mas quando se trata dos discursos proféticos, propositalmente se entrou além desse período para dentro do próprio exílio (com o profeta Ezequiel profetizando da própria Babilônia) e no retorno do exílio iniciando um novo ciclo (com os profetas Ageu, Zacarias e Malaquias).

Ou seja, dentro dos Neevim, os Profetas Anteriores (porção histórico-narrativa) terminam com destruição, ao que se segue os Profetas Posteriores (porção profético-literária) que concluem com ESPERANÇA.

Então existe um contraste proposital entre as duas seções dessa mesma coletânea, onde um ciclo histórico é concluído nos Profetas Anteriores e o início de um novo é deixado em aberto nos Profetas Posteriores.

Essa parte não é narrada nos próprios Profetas Anteriores pois faria esses acontecimentos do retorno à Jerusalém e reconstrução do Templo serem vistos (literariamente) como o fechamento do ciclo iniciado na primeira chegada à terra prometida, não como o início de um novo ciclo.*

Deve-se destacar ainda que a profecia israelita clássica tal como exposta nos livros dos Profetas Posteriores não é sobre prever o futuro, mas sim sobre um pensamento de longuíssimo prazo em prol de gerações futuras. Por terem encarado de frente a possibilidade de extinção do seu povo como um todo, acabaram por desenvolver o “povo eterno”: pela continuidade histórica de uma descendência disposta a construir e reconstruir quantas vezes preciso for o sonho de uma vida comunitária justa.

A terceira coletânea a ser organizada foi a dos Ketuvim (cuja tradução seria “Escritos”). Aqui os textos são marcados por uma maior heterogeneidade temática. Eu diria que essa coletânea reflete os diversos frutos da Aliança, em termos de poesia, sabedoria, liturgia e novas formas de narrar sua própria história.

Na primeira seção dessa coletânea, temos os Sifrei Emet (Livros da Verdade), contendo os Salmos, os Provérbios e o livro de Jó.

Aqui se começa com o livro de Salmos o qual tradicionalmente é dividido em 5 livros. Tal como a Bíblia Hebraica como um todo começa com os 5 livros da Torá, a sua coletânea final começaria com os 5 livros dos Salmos. Nos Salmos foram coletados cânticos elaborados nas épocas do Primeiro e do Segundo Templo, e até hoje recitados entre os judeus. O nome do primeiro Rei judeu em Jerusalém, Davi, é fortemente associado a esse livro. Os Salmos basicamente são um hinário.

Em seguida, similarmente aos Salmos enquanto um hinário coletando diversos cânticos, temos o livro de Provérbios, coletando diversas máximas e discursos proverbiais. Esse livro também é fortemente associado a um rei judeu que governou em Jerusalém, mais especificamente o segundo, Salomão filho de Davi. Ele reflete a Sabedoria — uma espécie de ciência/filosofia existente em toda a região do Levante — promovida nas Cortes dos Reis de Israel/Judá.

Já o terceiro livro dos Sifrei Emet, o livro de Jó, apresenta um debate intenso entre Jó, seus 4 amigos e… o próprio Deus (!), cada um apelando a poesias elaboradas para fazer algum ponto de Sabedoria. Então em Jó a literatura hebraica antiga de poesia e de sabedoria convergem num livro de debate poético entre sábios. Um aspecto muito interessante é que o protagonista de Jó é um sábio não-judeu, e por isso esse livro não faz remissão à Aliança feita com o povo judeu. E seu tema é extremamente universal: o significado dos males injustificados.

Passando agora para a segunda parte dessa coletânea, temos as Cinco Meguilot (singular: Meguilá). Tratam-se de livros curtos associados a 5 datas judaicas importantes (e lidos por ocasião delas) na liturgia rabínica. Eles são listados na ordem que essas festas ocorrem ao longo do ano iniciando por Pessach (Páscoa judaica).

Cântico dos Cânticos: lido por ocasião de Pessach, trata-se de poesia erótica celebrando o amor erótico entre um casal fortemente apaixonado. A tradição judaica, seguindo as metáforas já usadas pelos Profetas Posteriores sobre o amor entre Deus e Israel ser como um amor carnal entre um homem e uma mulher, fez desse livro uma metáfora complexa sobre a história de amor entre Deus e Israel. Por isso é lido na celebração da libertação do povo judeu em relação à escravidão no Egito, para conhecer o seu Deus ouvindo sua voz no Sinai e com Ele “casar”. É o Santo dos Santos, o Lugar Santíssimo da Bíblia Hebraica (rav Akiva).

Rute: lido por ocasião de Shavuot, trata-se da história de uma moabita que se converte à Aliança da Torá, por isso é lida em Shavuot, que celebra a entrega da Torá e sua aceitação voluntária por Israel no deserto. Esse livro também é importante porque: 1) é uma narrativa que mostra como um não-judeu vira um judeu, imigrando para a comunidade judaica e aceitando voluntariamente a Aliança; 2) apresenta que a ancestralidade da própria dinastia de Davi seria genealogicamente em parte não-judaica, por conta de sua bisavó convertida, Rute (que passou de moabita a judia). Além disso, traz um exemplo concreto da legislação social da Torá sendo aplicada em Israel.

Lamentações: lido por ocasião de Tisha BeAv, uma data rabínica estabelecida para lamentar a destruição do Segundo Templo. Então esse livro — que era um cântico de lamento pela destruição do Primeiro Templo — tornou-se um livro para lamento da destruição também do Segundo Templo. E a destruição do Templo envolve a “destruição” da própria presença divina, com a ida desta para o exílio junto ao povo judeu. O resultado disso é um dos livros que mais refletem o sentimento de “fomos abandonados pela vida” de toda a história humana.

Eclesiastes: lido por ocasião da festa de Sucot (Cabanas), trata-se de um livro de sabedoria que “inverte” o jogo apresentado nos Sifrei Emet e apresenta uma visão quase cética da existência humana no mundo. A escolha dele para ser lido na festa das Cabanas, na qual a Torá exige uma alegria especial e intensa, é de certa forma irônica dado os toques mais pessimistas do livro, mas ao mesmo tempo faz sentido à luz desse livro valorizar aproveitar a vida nesse mundo com muita alegria.

Ester: lido por ocasião de Purim, uma festa rabínica que celebra a salvação do povo judeu de um potencial massacre pelos persas, narrada nesse mesmo livro de Ester. No caso, é a história de como alguns judeus (Ester e seu tio Mordecai) vivendo na Diáspora conseguem sobrepor uma ameaça existencial voltada ao inteiro povo judeu morando em províncias persas. Deus nunca é mencionado diretamente e tudo é resolvido com base na astúcia humana. Assim, indiretamente, trata do ocultamento divino — e que mesmo nessas condições há de se ter esperança na libertação de toda opressão.

Assim, vemos que essa seção das 5 Meguilot é muito bem fechada no seu conceito de espelhar datas significativas do calendário judaico com narrativas, poesias e sabedoria altamente relevantes.

Por fim, a última seção dos Ketuvim, que tem como papel dar fechamento à Bíblia Hebraica, é composta do livro de Daniel, de Esdras-Neemias, e de [1–2] Crônicas. Esses 3 livros tratam de momentos bem diferentes (enquanto Esdras-Neemias e [1–2]Crônicas compartilhem um mesmo autor ou círculo de autores).

O livro de Daniel apresenta um sábio judeu vivendo na Corte Babilônica após o exílio e, depois, na Corte Persa (quando os persas dominam Babilônia), onde este sábio interpreta uma série de metáforas e alusões (dadas em sonhos/visões ao próprio Daniel ou ao rei pagão Nabucodonosor) à constante dominação de Israel por grandes impérios opressivos que, “no tempo do fim”, chegariam ao fim, dando lugar à restauração do povo judeu. É o único exemplo de literatura apocalíptica judaica a entrar na Bíblia Hebraica.

O livro de Esdras-Neemias (um único livro) trata de como foi o fim do exílio babilônico, quando sob os auspícios do império persa, foi possível reconstruir Jerusalém e o Templo. Apresenta-nos uma nova fase na qual o prestígio da Profecia Inspirada (Ruah Hacodesh) dos profetas de outrora agora residiria no conhecimento aprofundado da própria Torá por meio de estudo intenso.

O livro de [1–2]Crônicas reconta a história vista na Torá e nos Neviim (mais especificamente, nos Profetas Anteriores), recapitulando de Gênesis a [1–2]Reis, mas dessa vez finaliza esse conjunto histórico ampliado de forma diferente de [1–2]Reis: sua última sentença diz respeito ao Edito do Rei persa Ciro, cumprindo a profecia de Jeremias (um dos Profetas Posteriores), no sentido do retorno dos judeus exilados na Babilônia para a terra prometida.

Por que fechar a Bíblia Hebraica dessa forma? Porque de novo é “não fecha-la”, isto é, a história do povo judeu desde então continua em aberto, baseada na ESPERANÇA.

Cortejando esses escritos finais com os Profetas Posteriores nos Neviim, pode-se dizer que o ciclo iniciado com o retorno dos judeus do exílio babilônico ficou em aberto porque não chegou a acontecer a restauração completa de Israel na sua terra sob um rei davídico e um Templo contendo a Arca sagrada vivendo em paz com as nações (como mostra Daniel ao reinterpretar a profecia dos 70 anos de exílio numa numerologia das 70 semanas, ou na sua visão dos sucessivos impérios continuamente dominando Israel).

Ao mesmo tempo, essa nova fase seria marcada pelo predomínio dos acadêmicos da Torá, independente destes alcançarem ou não o Ruah HaCodesh (o Espírito de Profecia — literalmente: espírito santo ou espírito de santidade). Esdras e os “homens da Grande Assembléia” se tornam, assim, os ancestrais dos rabinos que irão figurar as páginas da Mishná e do Talmude.

Por isso o passo mais natural após a Bíblia Hebraica, de fato seria a compilação da discussão rabínica oral que se seguiu aos séculos de estudo intenso e aplicação prática da Torá pelos rabinos seguindo os passos de Esdras e os homens da Grande Assembleia. Daí surgirá a Mishná, após a destruição do Segundo Templo e um novo exílio, organizando a discussão rabínica de séculos anteriores, a Torá Oral, em uma estrutura de 6 grandes Ordens Temáticas (Sementes; Festivais; Mulheres [família]; Prejuízos Cíveis; Santidades; Purezas) com 63 tratados.

Dois séculos depois surge a Guemará, organizando a discussão rabínica ocorrida para comentar a própria Mishná, formando-se assim o Talmude, colecionando debates entre aproximadamente mais de 1.000 sábios. Nesse meio-tempo os Misdrashim de vários livros bíblicos também foram escritos.

Depois disso, veremos os grandes comentários bíblicos e do próprio Talmude por figuras como Rashi, as grandes codificações de Lei Judaica por figuras como o Rambam, e as grandes obras de Kaballah por figuras como o autor do Zohar e o Arizal…. A história dos judeus e da Aliança continua para bem depois dos tempos bíblicos!

Por fim, uma curiosidade numérica sobre a ordem judaica da Bíblia Hebraica:

Cinco livros da Torá coloca o número 5 em destaque.

Os 4 Profetas Anteriores são 4 como as 4 Matriarcas de Israel (Sara, Rebecca, Raquel e Léia).

Os 3 Profetas Maiores entre os Profetas Posteriores são 3 como os 3 Patriarcas de Israel (Abraão, Isaque, Jacó).

Os 12 Profetas Menores entre os Profetas Posteriores são 12 como as 12 Tribos de Israel. E são compilados num único rolo, como as 12 Tribos de Israel formam um único povo.

Os 3 Sifrei Emet na verdade correspondem a 7 livros, pois os Salmos tal como a Torá são 5 livros. E assim os Sifrei Emet na contagem corrigida são 7 como são 7 os dias da semana.

As 5 Meguilot são 5 como são 5 os livros da Torá (e 5 os livros dos Salmos).

Os 3 livros finais dos Ketuvim são 3 como os 3 Sifrei Emet (na contagem não-corrigida), como 3 são os Profetas Maiores e como 3 são os Patriarcas de Israel. E com eles o número total dos Ketuvim chega a 15 livros: tal como 15 são os Patriarcas de Israel + as 12 Tribos de Israel (e, assim, tal como 15 são os Profetas Posteriores).

*Note que na ordem cristã, como Esdras e Neemias constam do final de toda uma seção histórica ali, isso faz parecer que a história judaica teria seu último ponto ‘alto’ com Esdras e Neemias, pronto a ser sucedida por uma outra história — a cristã. Isso falando da Bíblia Cristã Protestante. Na Bíblia Cristã Católica (e da maioria/grande parte das Ortodoxas Orientais), a história dos judeus é finalizada com os livros de 1 e 2Macabeus (que não fazem parte do cânon judaico). Mas me parece que o efeito alcançado por isso não é muito diferente do da Bíblia Cristã Protestante no sentido de que haveria um ciclo “judaico” a ser sucedido pelo ciclo cristão.

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Written by A Estrela da Redenção

Releitura existencial da Bíblia Hebraica via existencialismo judaico + tradição judaica e pesquisa bíblica acadêmica. Doutor em Filosofia Valdenor Brito Jr.

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