[123] Adão e Eva na Kaballah Poética de Aaron Zeitlin

A Estrela da Redenção
13 min readMay 28, 2021

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Desde o post [113], estive falando a respeito do Jardim do Éden, do Fruto Proibido, e da história de Adão e Eva, que aparecem nos primeiros capítulos da Torá. Num dos posts, o [120], conclui afirmando que muito mais poderia ser extraído dessa narrativa se fôssemos para o domínio da Kaballah, que investiga o sentido secreto (sod) da Torá Escrita e Oral. No post [118] provi um aperitivo comentando apenas da conexão entre o Faraó do Êxodo e a serpente do Éden em termos da Kaballah do Arizal (que corroborava a análise do post [113]). Agora chegou o momento de dar um gostinho maior disso, de como ver essa história toda do Éden à luz da Kaballah.

No presente post trago um ensaio pelo poeta judeu Aaaron Zeitlin (1898–1973), que foi traduzido do ídiche para o inglês pelo pesquisador acadêmico Nathan Wolski e aqui faço uma tradução livre para o português.

A tradução e comentário do ensaio que trago para vocês foi publicada sob o título “Man, Woman, and Serpent: Kabbalah and High Modernity in the Early Writings of Aaron Zeitlin” (2018), por Nathan Wolski, na excelente revista acadêmica “אין געוועב/In geveb: A Journal of Yiddish Studies”.

Para informações do contexto da poética de Aaron Zeitlin também recorro a outro artigo do mesmo pesquisador na mesma revista acadêmica, “The Shtik Kabole Niger Couldn’t Digest: Poetry, Messianism, and Literatoyre in Aaron Zeitlin’s Keter” (2018).

Quem foi Aaron Zeitlin? Trata-se de um poeta judeu que compunha seus versos em ídiche, uma das línguas judaicas da Diáspora, baseada no alemão medieval (mas usando letras hebraicas e tendo elementos do hebraico e aramaico), falada pelos judeus askhenazitas da Alemanha e Europa Oriental. Filho de outro escritor ídiche e pensador judaico altamente celebrado, Hilel Zeitlin (1871–1942), um expoente do neo-chassidismo filosófico.

O contexto de Aaron Zeitlin era o modernismo secular em ídiche. O ensaio aqui faz parte de seu projeto poético “neo-kabalista”: uma fusão entre Kaballah e poesia. Seria colocar a velha Kaballah (do hebraico e aramaico) em vasos novos — o verso moderno (em ídiche).

Essa poética kabalística, esse “Yidish-kaboledik”, pretendia tornar o ídiche o novo portador do mistério divino e um novo elo na cadeia da tradição esotérica judaica, trazendo esclarecimento ao presente contexto da cultura judaica. Então se trata de uma jornada poética-mística absolutamente imersiva na Kaballah por um poeta secular-moderno. O existencialista judaico R. Abraham Joschua Heschel, do qual já falei várias vezes aqui no blog, chegou a falar de Aaron Zeitlin que este era um dos poucos indivíduos para os quais o misticismo judaico tornara-se parte de sua essência mais interior, um elemento de sua imaginação com a qual ele aborda a vida e forma seus vasos poéticos, e que as sefirot da Kaballah tornaram-se tão inteligíveis para ele quanto a sociologia moderna o é para outros!

Wolski propõe ainda que Aaron Zeitlig seja um caso de “literatoyre” (um trocadilho com literatura + Torá/Toiré em idíche): empreitadas literárias judaicas que buscam expressar questões de preocupação última em um formato literário moderno (poesia, prosa, drama) ao mesmo tempo em que se baseiam profundamente na literatura e linguagem judaicas clássicas.

Feita essa apresentação, o ensaio aqui traduzido livremente (da tradução acadêmica de Nathan Wolski para o inglês no artigo já citado) é denominado ​“Man, froy un shlang”, publicado em 1924 na revista ídiche Illus­trirte vok. Nele Aaron Zeitlig reinterpreta a narrativa de Adão e Eva no Jardim do Éden, recorrendo a uma passagem do Zohar (a obra-prima da Kaballah judaica).

Por meio da Kaballah assim poeticamente elaborada, Zeitlig entende essa narrativa como dizendo respeito ao nexo entre o amor, a morte e a civilização, bem como a dialética entre masculino e feminino, em termos de um princípio de unidade estática (o masculino) e um princípio de multiplicidade dinâmica (o feminino). Assim, nessas breves páginas encontraríamos ensinamentos profundos a respeito da condição existencial humana (bem em linha com o existencialismo judaico que é meu mote neste blog).

Antes de passar a tradução, um rápido aviso: o leitor deve tomar cuidado ao interpretar as referências feitas ao “Homem/Masculino” e à “Mulher/Feminino” aqui como indicando alguma forma de superioridade do masculino ou inferioridade do feminino. Para a Kaballah, tanto o Masculino quanto o Feminino são aspectos da Divindade (entendida assim ‘interssexualmente’). Por vezes, o que é falado a seguir sobre a “Mulher” pode dizer respeito ao “feminino divino” inclusive. E em vários trechos a atuação feminina na narrativa do Éden está sendo celebrada, por ter trazido uma dinâmica que era necessária à existência humana — mesmo que por vezes angustiante e mesmo dolorosa. Assim, como bem destaca Nathan Wolski em seu artigo, masculino e feminino aqui descrevem uma condição presente tanto em homens quanto em mulheres, e o retrato feito de Eva é favorável: aquela que conseguiu enxergar a beleza da vida e do amor mesmo a despeito da morte.

“Garden of Eden” [Jardim do Éden], Barbara Davis Lawrence.

E após ler o ensaio traduzido abaixo, recomendo que vá até o artigo de Wolski para entender melhor diversos aspectos expostos no texto abaixo, uma vez que o ensaio é muito bem comentado pelo pesquisador em questão, um especialista em misticismo judaico.

Sem mais delongas, confira “Man, froy un shlang” (1924), escrito em ídiche por Aaron Zaitlig, traduzido ao inglês por Nathan Woski (2018) e aqui traduzido livremente para o português:

O Homem, a Mulher e a Serpente

1. Nós morremos porque nós amamos

“E minha tribo”, canta Heine, “é o Asra, que morre, quando eles amam.”

Nós morremos, entretanto, não somente quando, mas também porque nós amamos.

Entre morte e sexo há um parentesco como entre raio e trovão. Quando se abre a Bíblia, encontra-se no próprio início a história da primeira mulher Eva e do primeiro homem Adão — dois descendentes diretos de Deus. Eles são alertados para não comer da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal — comer eles podem, entretanto, a serpente persuarde. Já a segunda árvore, a Árvore da Vida, fica de luto pelo erro das primeiras duas criaturas desse mundo, vendo que eles perderam a eternidade em prol de uma fruta de uma árvore, na qual o bem e o mal cresciam juntos.

Você consegue captar a profundidade desse conto do Gênesis? Aqui reside a chave da tragédia de todos que amam e morrem, aqui estão ocultos todos os gritos barulhentos e quietos da história, aqui estão cristalizadas as lágrimas nascidas no olho por todas as gerações.

A velha história com duas árvores em um velho jardim busca, entre outros pontos (digo “entre outros pontos” por ela conter, como pérolas no fundo do mar, incontáveis significados), descrever a conexão eterna entre três coisas relacionadas:

Entre morte, sexo e civilização.

Da’at. Conhecimento — em hebraico — significa: consciência do sexo (“E Adão conheceu Eva”). A Árvore do Conhecimento — a Árvore do Sexo e do Conhecer — porta um fruto duplo. Fruto do bem: evolução; fruto do mal: morte.

Adão e Eva, o primeiro casal, torna-se destacado da árvore da eternidade, onde eles cresciam juntos com divindade — expressado de forma diferente, eles trocaram os domínios do amor cósmico pelo do amor egoísta, humano-pessoal, e começaram a viver um para o outro: Adão para Eva e Eva para Adão. Entretanto, aquilo que eles perceberam, aquilo que eles descobriram — que eles são separados ainda que um, que eles são homem e mulher — isso também conteve uma profunda tristeza: a tristeza de conhecer, a chaga do entendimento. Eles captaram que por desejar viver somente como e para si (para o eu/self), mais tarde haveria de vir um tempo quando eles precisariam morrer, uma vez que aqueles que eles geraram, os futuros casais de homem-e-mulher, necessitarão da vida para eles mesmos sozinhos.

As primeiras relações sexuais entre Adão e Eva foram o coro de abertura da sinfonia mundial, o primeiro chamado matinal para os tempos de despertar — também foi, entretanto, simultaneamente, um sinal de que a morte viria, porque uma vez que eles tinham conhecido um ao outro sexualmente, nem Adão nem Eva poderiam mais viver eternamente de qualquer forma: de agora em diante eles tinham de deixar um lugar para o povo-por-vir, para os filhos, e os filhos do filhos, para o mundo.

É verdade que, de acordo com a Bíblia, Adão e Eva, e as primeiras pessoas de maneira geral, viveram por um tempo tão longo que suas mortes parecem a nós como um mal menor. A despeito de quão velhas-como-Matusalém as primeiras pessoas foram, entretanto, creio que, da morte, elas tinham o mesmo medo como nós, pessoas-nós-podemos-morrer-amanhã efêmeras. Veja, eles poderiam se permitir o luxo da vida somente à medida em que eles não se tornassem superflúos e uma carga pesada. O momento chega quando as gerações de pessoas, recém chegadas, mata fresca, já brotaram tanto ao redor do velho tronco, se multiplicaram tanto, que eles, os mais antigos, tem de sair de cena e morrer. E quanto mais a vida humana se torna curta e mais curta, como os dias no inverno, e a morte se torna mais frequente, mais rápida, mais fatal, o sexo cresce e com ele — a morte.

Reprodução e sexo geram o ser do mundo e a vida do mundo — mas ao mesmo tempo a morte espera na porta da vida, como sua condição, como uma lei da vida ela mesma, e — através da mediação do sexo — em firme parceria com a civilização.

Sexo e civilização são conectadas precisamente na mesma maneira em que sexo e morte o são.

Não fosse pelo sexo, não fosse por esse primeiro “conhecer” pelo qual Adão “conheceu” Eva — a eternidade teria permanecido inamovível como a neve no Mont Blanc, e Adão e Eva permaneceriam dois deuses giganticamente/colossalmente mudos do Jardim do Éden. O Jardim do Éden ele mesmo ficaria eternamente aberto, como uma casa que não teme ladrões, e seria desnecessária posicionar em sua entrada duas espadas guardiãs — anjos.

Entretanto, tão longo a consciência primordial foi desperta — a consciência do sexo — a consciência em geral precisou despertar. E o que é a consciência, senão bem e mal, alegria e terror, abismo e céu?…

Não foi por nada que Adão e Eva, logo depois de caírem, depois de destacarem a si mesmos da árvore da eternidade, vestiram a primeira roupa e sofreram a primeira vergonha. O que é civilização, se não se vestir e sentir vergonha? Vestir — nomeadamente, forma; e sentir vergonha — nomeadamente, sentir-se culpado, portar o sentimento eterno do pecado, lamentando que os pais primais (primeiros) separaram eles mesmos da eternidade…

Já fiz notar acima que dentro do que a Bíblia reconta a respeito do primeiro dia de Adão e Eva, incontáveis significados podem ser encontrados. Eu extraí aqui nada mais do que um deles, do qual emerge que a sexualidade, duqra, masculino, e nuqba, feminino, são dois contrastes, eternamente produzidos:

Amor — Evolução — Morte

Morte — Amor — Evolução.

A morte fica no meio dessa incrível proporção. É o que faz possível ser, o que faz possível o eterno “algo a mais”, o interminável “mais tarde”.

A morte é uma condição da civilização, uma lei da vida, e — o fruto-à-sombra-do-sol do amor.

Nós morremos porque nós somos civilizados e porque nós amamos.

Portanto, você não deveria considerar como mero afeto ou como metáfora inconsequente a equivalência tão querida pelos poetas entre o amor e a morte. É mais que equivalência e certamente mais do que afeto. Você precisa somente acrescentar à aliança de dois um terceiro: civilização, entendimento, “conhecimento do bem e do mal”.

Precisamente esse “conhecimento do bem e do mal”, entretanto, foi legado a Adão através de Eva. Não foi Adão, mas ao invés foi Eva, quem, no meio da cegueira feliz do Jardim do Éden aonde o “ver” não pertence, por sua luminosidade radiante, foi ela a primeira a avistar a terra sob seus pés. A mulher foi a primeia a trazer evolução, morte e amor, a primeira a transmitir ao homem roupas, forma, o sentimento de ser pecaminoso e de vergonha, a necessidade da civilização e a vontade de “ser”.

Também Enkidu, um dos dois protagonistas centrais no antigo e memorável Épico Semítico sobre Gilgamesh, é levado para fora de sua vida adâmica, selvagem e errante, por meio de uma mulher através de um ato sexual, e se torna assim “urbanizado” (morador de cidade).

Pois é com a mulher, como foi a ela para quem a terra e a forma foram primeiro reveladas, que começou a “cidade”, começa tudo que é marcado por representação, tudo que é melancolia transiente e belo efêmero, como o Sol no Outono.

O homem, entretanto, anseia o retorno àquela cegueira edênica primordial que é tão radiante. Ele anseia por retornar — da cidade, da civilização, da forma, morte e amor — à árvore da vida eterna, à feliz ausência de forma do infinito, para o inumano e o não-egoísmo (oyser-mentshlekhkayt un oyser-zikhikayt).

A mulher quer, o homem quer parar de querer — essa mesma oposição conduz todas as rodas da história; é a luta entre Cidade e Deus (shtot un got), o conflito entre a consciência terrestre e a consciência-para-além-daqui.

Homem e Mulher — efemeralidade bela, terna, e inumanidade furiosamente masculina.

Isso é a chave de tudo, e a porta ao mesmo tempo.

Desde tempos imemoriais, os místicos sabiam disso e os artistas de todo o mundo sentiam isso — e é por essa razão que o deslumbramento do sexo anima todo misticismo, de um lado, e toda a poesia mundial, do outro.

Schopenhauer escreveu seu “Mundo como Vontade e Representação”.

Verdade seja dita, uma obra deve ser escrita com o nome “O Mundo como Homem e Mulher”.

E você sabe quem viu isso exatamente dessa forma?

O Zohar!

2. A Mulher com inumeráveis nomes

Homem e Mulher, depois de seu banimento do Jardim do Éden, permaneceram à mercê da serpente na escuridão. A serpente, verde, se enrola em seus pés e diz: “Agora vocês são Deus!” Mas o homem e a mulher lamentam. Na escuridão suas lágrimas brancas caem na costa verde da serpente.

Agora eles morrerão.

Assustado, Adão olha para o enigma Eva, de carne e sangue vermelhos. Ela fica ante ele vermelha como um incêndio, orgulhosa e alta. O que ela quer dele? Ela passou a ele uma maça e na maça residia aniquilação.

Repentinamente Eva começa a inclinar Adão em sua direção e a escuridão cresce cheia de mistérios. A serpente sibila em raiva. Não foi ela então nada mais do que o pobre cafetão de Deus? Ela se move um pouco à parte. Um consolo surgiu para o par, um inesperado e grande consolo. Adão conheceu Eva. De Eva — a sedutora e auxiliadora da serpente — vem a primeira mãe.

“Veja”, diz Eva alegremente para Adão. “Logo a vida de novo aparecerá no mundo. E mesmo enquanto nós iremos morrer — a vida ela mesma não morrerá.”

Tremendo, Adão beija mulher, apoiando-se na sua maternidade como um muro de salvação [nota do tradutor: veja Isaías 60:18] — Adão se torna filho de sua amada.

Nela, a mão por vir — sua esperança por redenção, a possibilidade de algum dia desenredar a si mesmo, em um tempo de milhões de anos, de debaixo da mão castigadora de Deus e se tornar edênico uma vez mais.

E note:

O que eu reconto aqui da primeira noite terrena de Adão e Eva é válida para todas as nossas gerações, de tempos imemoriais até o presente momento.

Na medida em que a mulher seja somente forma, ânsia/sede e a bela morte — Adão teme seu enigma de sangue vermelho. Ela desperta nele todos os seus desejos, ele é seu escravo, seu cachorro em uma coleira — mas íntima, mas uma segundo-eu, mas uma amada ela se torna para ele mais tarde, quando ele avista — por detrás dos véus de sua forma bela mas cega — a essência: mãe.

É nesse momento que começa seu caminho até ela — o caminho em espírito.

Então ele sente que somente aqui, na mãe, reside oculta uma possibilidade distante para ele de escapar (de qualquer forma que isso seja) da dança circular serpentina: morte, forma, conhecimento. Dos olhos dela, os dois corações abertos que queimam sob sua testa — cintila um vestígio daquela antiga cegueira edênica, em busca da qual ele anseia no meio de suas torres de Babel, de suas culturas eternamente em mudança e de frio conhecimento imensurável.

Portanto — a apoteose maternal no misticismo e na poesia. Mais profundamente — no Zohar.

Homem e Mulher — dois princípios fundacionais eternos de acordo com o Zohar, que, para empregar a frase de Goethe — “tece a vestimenta viva da Divindade”.

É verdade que uma divisão significativa do inteiro cosmos em dois princípios fundacionais, Homem e Mulher, já pode ser encontrada entre as antigas seitas gnósticas-heréticas, onde os 30 aeons-mundos (aqueles que Schelling pretendeu mais tarde pela palavra: zeitalters) são compreendidos de 15 pares de homem-mulher, cada par — um inteiro dobro e uma unidade dobrada. Entretanto, tudo isso é fantasia em comparação ao Zohar. Pois aqui, na Bíblia da Kaballah, o sexo se torna a pedra angular de um inteiro edifício, pelo qual o que está acima deve se unir ao que está abaixo, e a luz, velada na escuridão, deve ser desvelada com mãos poderosas realizando combinações.

Diz o Zoharista:

Existe uma mulher abaixo, inferior — do que eu sei que há uma mulher acima, superior, da qual a mais baixa é sua reflexão, uma ramificação de degraus superiores. Essa é a mulher com inumeráveis nomes. Essa é Matronita — a Dama do Mundo, a bela garota, ulimta shapirta, ayalta, a corça, a rosa supernal, a águia e a pomba de Noé.

A mulher abaixo é nada mais do que um link na cadeia de nuqba, na cadeia do feminino eterno.

Uma cadeia deve ser completa, ela não deve se tornar desconectada em parte alguma.

Para a cadeia ser completa, para que o ouro da cadeia não se torna escurido em algum lugar, para que nenhuma ferrugem deva aferrar-se nela, para que os links permaneçam firmes e duráveis — aqui precisa haver um elo constante entre os links:

A mulher abaixo deve perpetuamente deparar a mulher acima, como a Lua em direção ao Sol. Deve haver influência mútua entre elas. Apenas como aqui abaixo, ali existem atos de pura união nos domínios supernais, dependentes um do outro, um condição do outro. O sexual deve se tornar santo sob a terra de modo que nenhuma mancha possa acontecer ao amor puro do domínio celestial.

Sexo, entretanto, não é assim empurrado para longe pela Kaballah com duas mãos ascéticas, como é feito, por exemplo, no misticismo cristão. Ao invés, purificação é solicitada. O fogo que habita na paixão, o fogo sem o qual a existência é nada, morte, caos — esse fogo errante deve pouco a pouco ser roubado do desejo, para ser restaurado à casa parental, a casa origem de todo fogo e de toda a vida:

Na casa da santidade.

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Releitura existencial da Bíblia Hebraica via existencialismo judaico + tradição judaica e pesquisa bíblica acadêmica. Doutor em Filosofia Valdenor Brito Jr.